segunda-feira, 20 de agosto de 2012

19 – Caminhos da adolescência

Nós crescemos, viramos adultos e a nossa vida passa a ser mais intensa com caminhos que exigem decisões responsáveis para um futuro melhor.

Mas por hora deixando o ser adulto de lado, quero recordar da adolescência e da virada de uma fase cheia de emoções e que faz nosso ser borbulhar.

Em minha casa éramos oito irmãos crescendo juntos. Na verdade a minha irmã mais velha nessa época já era independente e curtia sua fase adulta trabalhando, conhecendo pessoas e namorando. E sobre essa irmã vale contar um episódio da vida dela que deve ter marcado um ciclo de sua vida.

Foi há um tempo atrás quando minha irmã sentindo-se feliz com a vida resolveu apresentar seu namorado para meus pais conhecerem. Tudo ia bem, era noite e lembro que estava chovendo um pouco e os dois ficaram na varanda conversando. De repente escutei uns esculachos do meu pai somente porque o rapaz beijou minha irmã. Enciumado o velho Inácio resolveu por o cara para correr e, coitado, ele saiu batido da minha casa.  Minha irmã, cheia de vergonha e com medo da ira do pai teve que se esconder na casa da minha avó. Após esse incidente ficou difícil a aceitação do namoro e creio que ela passou a encontrar-se com rapazes longe de casa e escondido dos pais.  Muitas caminhadas na vida aconteceram até minha irmã superar tudo isso, hoje ela está casada com filhos e quando nós relembramos essa história damos boas risadas.

Sempre fui inquieta com a vida, e reconheço que a zona de conforto me incomoda muito. A vida é movimento e pensar em obter o melhor da vida significa estar  atenta as oportunidades, basta reconhecer e aproveitar. 

Eu estava crescendo, entrando na puberdade e queria uma vida mais abundante e sabia que meus pais já não podiam atender os desejos materiais daquela quantidade de filhos. Felizmente acredito que podemos realizar os sonhos que desejamos fortemente. E com esse perfil sonhador é que consegui realizar muitas coisas boas na vida.

Décadas de 60 e 70 foram épocas de músicas incríveis, rocks inesquecíveis, música pop, cantores que mexiam com nossa imaginação. A música embalava nosso corpo e nossa vida dando-nos alegria. E foi assim que passei a desejar uma vitrola para ouvir e dançar as minhas músicas preferidas. 


Um dia meu pai chegou em casa com um vitrola portátil de presente de aniversário, nem acreditei que era pra mim.  Meu primeiro disco foi um compacto do Elton John, contendo Bennie and the jets que eu não parava de ouvir e dançar. Acho que a música ajuda a nos conectar com a nossa alma e a alimenta de alegria.

Essa vitrola era guardada a sete chaves,tinha muito ciúmes das minhas coisas e não queria que meus irmãos mexessem com medo de quebrar o que me fazia feliz.

Certo dia quando voltei da escola não encontrei a minha vitrola no quarto. Meu irmão mais velho a tinha levado para um campo de futebol para ouvir música com seus amigos. Muito invocada fui lá, briguei, esperneei e voltei para casa triste. Meu pai sabendo desse episódio, não sei se pelo meu egoísmo ou se pelo abuso do meu irmão, foi até o campo de futebol pegou a vitrola e no meio do caminho encontrando uma lixeira jogou-a repetidas vezes com toda a força no chão até virar pedacinhos. Com medo de ser castigada me escondi debaixo da cama e fiquei ali por horas chorando sem parar, pensando porque meu pai tinha feito aquilo comigo. Foi um choque que demorou a passar, me deprimiu e eu não parava de pensar nos momentos felizes que aquela pequena vitrola me deu. Arrependido por achar que cometeu uma crueldade meu pai me deu outra vitrola. Ufa !!!!

É verdade, literalmente eu guardava as minhas coisas a sete chaves. Cheguei a instalar um grande e  “forte” cadeado no meu guarda-roupa, mas de nada adiantava, pois sabiam retirá-lo, pegavam o que queriam sem deixar vestígios de violação. Quando sentia falta de algo eu ficava invocada e brigava muito com todos. Até a namorada do meu irmão levou algumas peças de roupas minhas quando decidiram fugir juntos. Chegando em casa da Escola é que percebi meu guarda-roupa violado e um tempo depois soubemos da fuga do casal. Hoje ela é a esposa dele, formaram uma família linda de 04 moças e um rapaz, e essa minha cunhada é uma mulher doce, atenciosa e maravilhosa.  

Ainda me sinto culpada pelo meu comportamento egoísta, sei que magoei meus irmãos. Se eu pudesse voltar atrás tudo seria diferente, o egoísmo é um sentimento inútil a uma vida feliz, só causa raiva e descontrole.  Vivo cobrando as minhas filhas para compartilharem tudo que tem.

Como a vida é movimento, o tempo avançou e a puberdade transformou meu corpo e mente. Muito ingênua eu  não sabia nada sobre sexualidade, puberdade e menstruação. Minha mãe, uma mulher simplória e analfabeta até os seus 40 anos , também não sabia conversar sobre esses assuntos. Certa vez no ginásio algumas colegas "espertas" zoaram da minha cara porque não sabia nem o que era  menstruação. Muito tímida e ingênua não sabia falar nada e elas se divertiam comigo, isso na época era um bulling declarado.

Quando fiquei menstruada a minha irmã mais velha disse que eu tinha que engolir 03 caroços de feijão para o sangue descer apenas por 3 dias. Foi difícil engolir, mas consegui e nada disso aconteceu sempre menstruei um fluxo grande e por 05 dias.


Pois é a adolescência é uma época que tudo acontece e o interesse pelo mundo cresce junto conosco. Nos preparamos para entender como as moças devem se comportar e se cuidar. De meninas nos transformamos em moças, nos tornamos protagonistas de nossa propria história e um mundo de emoções surge a partir das descobertas da vida.

E foi nesse ciclo que eu sendo uma bobinha quase cai numa cilada triste da vida. Um vizinho de muro, um senhor velho e casado, estando sozinho em casa e me vendo brincar no quintal me chamou na sua casa com uma desculpa atrativa e quase me violentou. Felizmente, meu irmão guardião que não está mais conosco,  entrou nessa casa e gritando por meu nome me salvou daquelas garras. Com medo disfarcei o episódio, fomos embora para nossa casa e guardei esse segredo triste por muito tempo. Somente aos trinta anos consegui contar essa história  para minha mãe. Depois desse trauma, evitava ficar sozinha no quintal e tinha um verdadeiro repúdio pela casa e por esse homem, que até hoje vez em quando sua imagem vagueia pela minha mente. Triste lembrança ...

Momentos bons vieram depois com a fase de ginásio e das férias que eventualmente eu trabalhava para obter o meu dinheiro e comprar as minhas coisas. E um desse trabalho foi em uma rede de papelaria. Consegui esse temporário de fim de ano indicado pela minha irmã mais velha que trabalhava em uma das lojas. Eu gostava de ajudar na decoração de Natal, imaginações natalinas coloriram essa fase da minha vida. Até uma paixão de férias aconteceu e logo com o filho do dono da papelaria, era um rapaz da minha idade. Numa festa de confraternização nossos olhares se cruzaram e passei a fantasiar um amor platônico, não correspondido porque eu era uma simples funcionária da loja. Havia muito preconceito, e não me esqueço de um bilhete que recebi da irmã do gerente desta loja dizendo que eu não devia me iludir. As palavras eram mais ou menos assim: “Não se iluda meu bem..”. Fiquei triste, chorei, me senti magoada, mas logo o tempo curou.

Algum tempo passou e um belo dia eu fiquei sabendo que esse rapaz havia casado, que as lojas faliram e que ele não estava muito bem. Eu, graças a Deus, seguia em meu caminho de prosperidade no estudo e no trabalho. Mas Barry White até hoje com a música You Are The First, My Last, My Everything  faz lembrar-me dessa história.

Jovens adolescentes passam por um turbilhão de emoções nessa transição entre a infância e a vida adulta. Parece que a vida quer ensinar tudo e algo mais nessa fase. Queremos nos afastar um pouco da família, assumir novos papéis sociais e levar uma vida mais independente.

Minha mãe sempre foi uma mulher calma, compreensiva e amável, mas quando percebia qualquer comportamento diferente em relação a paquera e namoricos logo me ameaçava dizendo que me tiraria da escola caso soubesse que eu estava flertando com alguém.

Adolescência marcada é uma fase curtida uma vida inteira. E nesses caminhos a minha vida foi de namoricos inocentes e secretos, fantasias de amor platônico e amizades inesquecíveis mas que o tempo levou embora.

Valeu a pena passar por tantas emoções, me ajudaram a adquirir maturidade, responsabilidade e a respeitar minhas limitações. Obrigada meus irmãos vocês também contribuíram na construção da minha personalidade e do ser humano que sou hoje.

Luz do Sol! 

avidaemcaminhadas.blogspot.com.br


2 comentários:

  1. A PASSAGEM DA VITROLA E A FAVORITA DA FAMILIA.TODOS DAMOS GOSTOSAS GARGALHADAS COM NOSSO IRMÃO ZI CONTANDOA.

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    1. Oi quem é? A mensagem entrou como anônimo e sei que é um irmão. Fico feliz quando recebo um comentário, mas quero saber sempre quem está me enviando. Bjus!!

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