segunda-feira, 13 de agosto de 2012

17 - Inocência : Um mundo de encanto e desencanto

Minhas filhas tem um grupo de amiguinhos que diariamente as chamam para brincar. E foi assim  num lindo sábado de sol que aconteceu uma situação inusitada. 

Logo pela manhã tocaram meu interfone e era um amiguinho chamando as meninas para uma diversão na piscina dele. Elas ficaram eufóricas com o convite do Vinícius e já sabendo que eu não deixaria imploraram meu consentimento alegando que todos iriam, inclusive a melhor amiguinha chamada Luiza. Meu marido não estava em casa e certamente se tivesse não deixaria e ponto final. Mas a maneira tão inocente de argumentar  e a insistência delas me fizeram refletir que não poderia tirar o sabor da infância de minhas filhas. Não permitindo eu estaria tirando a graça da criançada que apenas queriam aproveitar essa fase linda da vida que é guardada para sempre.  Enfim decidi deixá-las ir, mas  obviamente  enquanto elas vestiam o biquíni ouviram mil conselhos de como se comportarem.

Enquanto ajudava na amarração do biquíni delas ouvi o interfone tocar e era a Luiza que timidamente veio avisar que não poderia mais ir à piscina do Vinícius. Seus pais receberiam uma visita e sua mãe pediu que ficasse em casa mas que  poderia convidar as amiguinhas para sua piscina. Pois é, a diversão na piscina do Vinícius furou e lindamente vi as três mosqueteiras seguirem juntas para curtirem um dia feliz.


No meu portão ficaram os amiguinhos Vinícius e Rodrigo atônitos e chocados com o novo rumo da história, sentindo-se preteridos pela graça das meninas e regras do clube da Luluzinha. Tentei argumentar alguma coisa, tipo:  - elas são meninas gostam de brincar juntas e meninos têm brincadeiras diferentes.  Por que vocês dois não vão brincar? Mas o Rodrigo logo rebateu: - eu não, só dois é chato!  E saiu indo embora para sua casa.

Vinícius que é um menino feliz e muito risonho logo fechou sua carinha e abaixando os olhinhos tristes foi embora.


Um tempinho depois o anjo Vinícius tocou novamente meu interfone e lá fui eu falar com ele.  E com aquela carinha triste perguntou:


- por que as gêmeas  não podem ir para minha piscina?
- por que elas nunca podem ir para minha casa?
- por que sempre tem que ir com a Luiza?
- eu queria tanto que elas fossem para minha piscina, não tem mais ninguém de amiguinhos na minha casa, só eu e o Rodrigo.

Com a voz embargada e lágrimas rolando em seu rostinho  percebi que  o Vinícius estava  angustiado e sofrendo.  Um menino doce que ansiava apenas brincar na companhia de amiguinhas em um lindo sábado de sol. Um menino que revelou uma pura inocência não tendo vergonha alguma de chorar a dor da rejeição e da frustração.  Um sentimento doloroso de uma inocência corrompida por uma expectativa não atendida.



Nossa! Piedade, sentimento de culpa; sei lá, mas me senti mal por quebrar a expectativa de uma criança. Quis reverter  esta situação e lá fui eu junto com o Vinícius para a casa da Luiza chamar as meninas e mudar a brincadeira para a casa desse amiguinho. Mas graças a Deus a mãe da Luiza sabendo dessa história autorizou a entrada dos meninos para brincarem na piscina e assim a criançada ficou feliz.

Essa é a parte de uma história encantada, a voz da inocência manifestada na infância de um menino de 08 anos.


Quanto a inocência desencantada, esta se manifestou bem ali na minha frente e na piscina da Luiza, e me fez  refletir o mundo infantil, o presente e futuro das minhas filhas.


A Luiza é uma menina de 10 anos, sempre meiga, tom de voz baixinho e perfil aparentemente tímido socialmente.  Ela estava com um biquíni com um bustiê que salientava seios que jamais percebi nela até então. Perguntei para mim mesma, será que não reparei que ela já tem seios formados? Será que a roupa escondia e por isso nunca percebi?  Somente a noite conversando com minhas filhas fiquei sabendo que o tal bustiê continha enchimento.

Eu nem sabia que existia venda de biquíni com enchimento para meninas a partir de 07 anos. Bem, sou contra essa moda, acho que é adultização e pior ainda estimula a erotização precoce. Vestir crianças como adultos é tirá-las da melhor fase infantil e jogá-las para um universo adulto.


O mundo infantil encanta mas infelizmente as influências equivocadas pode torna-lo falso e desencantar uma inocência que deveria ser preservada.

Como a inocência de um menino pode contrastar e ser tão diferente do mundo das meninas?  Que mundo tresloucado é esse que estimula uma sensualidade que ainda não existe no corpo de uma menina de 10 anos? Aqui nessa história os meninos são figuras ingênuas e as meninas manipuladas pela adultização fazendo-as  pular o tempo.

Juro que não sou preconceituosa, repressiva, conservadora, mas creio que manter os princípios de uma boa educação é preservar e respeitar a criança em seu mundo, assim nós estaremos conduzindo nossas crianças para uma vida adulta saudável.


Conversei bastante com as minhas filhas sobre esse assunto e elas entenderam super bem que não devemos antecipar e sim preservar a natureza de uma criança, claro que também me preocupei em não criticar a moda da amiguinha.


Prefiro manter a ligação com as princesas que elas tanto admiram, afinal, é ingênuo, as faz sonhar  e as protege de um mundo real e duro.


*Os nomes das crianças foram trocados a fim de preservar a identidade delas.

 Até!!!! 

avidaemcaminhadas.blogspot.com.br

 




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