sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

159 - O RITMO DA FÉ



Certo dia estava eu deitada tentando dormir, era madrugada, os sons dos atabaques chegavam aos meus ouvidos e permaneciam como um ritmo que auspiciava os pedidos de gente de fé e de não fé. Lembro desse tempo antigo, havia nessa época um mistério no som dos atabaques e de uma crença religiosa diferente daquela que a minha família seguia. Em casa não se podia comentar sobre esse assunto, apenas ouvir aquele som tão ritmado nas muitas madrugadas da minha vida. Eu cresci sabendo que existia um mistério sobre o qual não se falava por nada. Quem conhecia um pouco se tinha respeito, mas quem não sabia nada se tinha mesmo era um enorme medo. Nessa época falava-se que era uma reunião onde as pessoas veneravam demônios de capa, demônios com tridentes que fumavam charutos e que vestiam roupas coloridas de preto e vermelho. Quantas vezes eu ficava paralisada por horas olhando o teto do meu quarto com o pensamento tentando imaginar o que acontecia nessas reuniões. Quantas vezes eu ia me deitar e ficava na naquela expectativa do som invadir os meus ouvidos. Me deixava envolver naquele ritmo, parecia que compassava com as batidas do meu coração, na verdade não sabia se o ritmo entrava em mim ou se as batidas do meu coração ritmava o batuque da noite. Ficava assim estática e somente saía desse estado de torpor quando me assustava com as brigas de gatos no telhado da minha casa. Quando aconteciam essas brigas, o miado dos gatos era tão alto que me fazia esquecer o lado misterioso das noites de lua cheia ou das noites programadas para o encontro dos meus vizinhos com o sobrenatural.
Fui crescendo junto com a curiosidade de saber mais sobre essas reuniões que chamavam de seita ou de religião. Não sabia bem o que era, se era Umbanda ou Candomblé, sabia que era uma vizinha e seus convidados noturnos que invadiam nossa casa com o som de tambores ancestrais e tentavam tirar o sentimento crístico dos meus pais. Meus adorados pais eram católicos praticantes e nessa época nossos corações nada mais entendiam além do que eles passavam para a família. Nossa vida era entregue a Deus todos os dias, somente devíamos confiar em Deus ou em Jesus Cristo, seu filho. Graças a esse sentimento eu tive meus encontros com esse grande e poderoso Deus, através do Batismo, Comunhão e Crisma, três encontros entre a família e Deus, entre eu e Deus. Meu alicerce sagrado que me garante para toda a vida a sentinela do amor divino. Não entendia muito bem porque alguns acreditavam em Deus, único Deus e outros para chegar N’Ele precisavam entoar ritmos em tambores, vestir roupas diferentes, fechar a cabeça com lenços e usar dezenas de colares coloridos. Era assim que eu via quando eles saiam do seu chamado terreiro para festejar em algum lugar o fim de ano. Essa foi a uma etapa diferente, quando o ruído da celebração saiu do meu quarto para passar ao vivo e a cores em frente a minha casa. As pessoas andavam como numa banda, vestidos a caráter como mandava a religião, carregando flores, cestas, tambores, pisavam descalços no chão e seguiam para algum lugar onde fariam seus rituais de agradecimento até tardar da madrugada. Outra etapa que a religião diferente me fazia enxergar era uma prática que muitos acreditam até hoje ser a promessa do milagre e do pedido atendido.
Uma crença, vinda Deus sabe de muito longe, mas talvez bem deturpada pelos pensamentos equivocados que a humanidade professa sem sentido e sem o sentimento da real verdade. Como seres guiados pela comunhão inversa saem com pensamentos do bem e do mal para depositarem num lugar insólito ou numa encruzilhada flores, bebidas, velas, cigarros, charutos e comidas diferentes que chamavam de despacho com uma fé de que seus presentes agradariam o além e como troca teriam seus pedidos atendidos. E na nossa atualidade muitos acreditam nisso, aliás posso dizer que a grande maioria para centrar o sentido da fé precisa transformá-la em algo físico que tem que pegar, mostrar, caracterizar ou entregar para ritos de passagem da vida e não vida, para ritos espirituais que traquinam a mente de quem vive sem a fé crística e salvadora. É como uma vela de acender, enxergamos na vela um símbolo de luz que psiquicamente acende o caminho para um mundo de paz espiritual.
Que o amor traga a espiritualidade da luz para dentro de nós!


LUZ UNIVERSAL
LUZ ESPIRITUAL
LUZ CRÍSTICA



Nazareth

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