quinta-feira, 14 de junho de 2012

08 - A vida no caminhão amarelo


A minha história de vida parece fluir como num tilintar mágico.



Meu pai trabalhava incansavelmente dirigindo um caminhão amarelo e sempre antes de sair  orientava minha mãe para não deixar os filhos na rua. A obediência era um respeito, mas a vontade de brincar, rsrsrsrs, essa era maior.  Sabe como são as crianças, tem muita energia e elas querem mesmo é correr, pular e  brincar.  Meio que desatinados saíamos para a rua e ficávamos próximo ao nosso portão, ali permanecíamos por horas, quase o dia inteiro. As brincadeiras eram muitas, desde bola de gude, roda-pião, esconde-esconde, amarelinha até desenhos riscados no chão. Nós sabíamos a hora em que meu pai voltava do trabalho e ficávamos todos atentos. Eram dois sinais que alertavam a chegada dele do trabalho: o ronco do motor do caminhão e o cigarro que acendia logo que descia do caminhão. Imagina, um bando de crianças correndo e dizendo “chegou ele, vamos, corre!”. Todos corriam e quando ele chegava em casa fazíamos adoráveis caras de anjinhos obedientes, rsrsrsrsrs.

 

Logo depois meu pai deixou de fumar e aí a atenção passou a ser somente ao motor do caminhão. Era como se silenciasse a mente para ouvir o caminhão amarelo chegando.

Esse caminhão era o nosso meio de transporte para alguns lugares e passeios. Era com ele que meu pai nos levava ao médico, a praia, a feira e em viagens curtas. Era divertido até certa idade, aquela da inocência e do forte vínculo afetivo. Mas quando chegou a pré-adolescência confesso que eu ficava envergonhada com o caminhão, não queria que meus amiguinhos me vissem andando de caminhão. Sempre que meu pai me levava para algum lugar eu dava um jeito de disfarçar e me esconder abaixando na cabine do caminhão. Nunca contei isso para ninguém, na verdade eu entendia que era uma atitude errada e isso me dava um sentimento de culpa diante de tanto amor que recebia do meu pai. Fica aqui esse triste desabafo  e um pedido de perdão ao meu pai.





Foi de caminhão com a família que conhecemos Mangaratiba, litoral sul do Rio de Janeiro. As meninas acompanhavam a mãe na cabine e os moleques na carroceria. Dessa viagem me lembro de fatos inusitados segundo a mente de  uma criança. Achava estranho a linha do trem passar  bem junto a areia da praia, do sino que tocava na madrugada, e da cara de espanto da maioria na padaria  local quando escutavam nosso pedido  de pão bisnaga  para o café da manhã (rsrsrsrs, tinha alguns comilões na família). Muito mais alegres do que cansados retornamos dessa viagem com o coração preenchido pela beleza encantadora do lugar e com os muitos cocos dividindo espaço da carroceria com os meninos.

Igreja da Penha lá fomos nós! 

Era Outubro ,mês da festa em homenagem a padroeira de N.S. da Penha. O passeio conciliava a festa, mês de aniversário do meu pai e também uma promessa feita por minha mãe para curar a bronquite do meu irmão caçula. Tudo planejado pela minha mãe, desde a nossa roupa até a bolsa de comida para o piquenique.  E essa bolsa era vorazmente vigiada pelo meu irmão Zi, o comilão, que de maneira alguma nos deixava compartilhar aquele peso delicioso. Subimos os 382 degraus de escada, a Igreja lotada   e uma paradinha no meio da escadaria para uma foto histórica.





Depois da romaria da família na Igreja da Penha, uma bela surpresa:  entradas  para o Parque de Diversão  Shangai bem ali juntinho do Santuário da Igreja da Penha. Mais um momento de memória marcada e que será eternizado por nossas  muitas gerações.

Esse dia foi memorável e  hoje quando reunimos a família damos boas risadas lembrando os nossos passeios no caminhão amarelo.

E essa cor amarela, ah  essa me segue e me dá sorte .

Na paz!











avidaemcaminhadas.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. jorge felix da silvasexta-feira, 15 junho, 2012

    NÃO TENHO PALAVRAS PARA DESCREVER A EMOÇÃO QUE SENTI AO LER.MESMO QUE EM NOSSOS ENCONTROS FAMILIARES SEMPRE TOCAMOS NESTA FASE DE NOSSAS VIDAS, A FORMA E AS PALAVRAS ILUSTRADAS COM ESSAS FOTOS( TANTO A DO CAMINHÃO AMARELO E A DA IGREJA DA PENHA A QUAL VC DEFINIU MUITO BEM COM HISTÓRICA).MAIS UMA VZ VLW NAZARETH.

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