segunda-feira, 25 de junho de 2012

11 – Minha avó era assim


Quero falar da minha avó Rita, a mãe do meu pai. Embora fosse uma mulher de vida humilde, ela tinha uma  personalidade forte,expressão autoritária, não tolerava qualquer desrespeito e não sabia lidar muito bem com a família e nem  com as pessoas em geral.

Além do meu avô, moravam com ela, minha tia  e suas 02 filhas, ou seja, uma filha dela e duas netas que praticamente foram criadas pela avó.

Minha avó Rita era muita sisuda, conservadora e gostava de uns palavrões. Não era fácil deixar que os devaneios infantis tomassem conta do seu ambiente. Sempre exigente com a vida, dava ordens a todos e ai daquele que não a respeitasse.

Minha avó era assim, ignorante na sabedoria do conhecimento, era analfabeta, e por vezes   não sabia como lidar com a ternura daqueles que sempre estavam ao seu lado, para ela não existia meio termo, ou era 8 ou 80.   

Uma caminhada lado-a-lado com a minha avó, essa fase posso dizer que foi dura, mas foi a vida avançando, necessário como o tempo, raízes que vingaram. Hoje posso dizer que a entendo, carregamos dela lembranças e  a genética da família.

Atualmente conto para minhas filhas algumas histórias dessa época e elas ouvem  interessadas em saberem como a vida lá atrás era diferente do tempo delas.

Sempre conto o episódio da televisão. Gostava de ir  a noite para a casa da minha avó assistir um pouco da programação daquela época. Junto com as primas sentávamos no chão da sala e ali ficávamos imóveis e quietas. Minha nossa, quando passava a novela e tinha uma cena de beijo ela brigava com a gente e ordenava para taparmos os olhos. Muitas vezes eu ficava com os dedos entreabertos e ela nem percebia, rsrsrsrsrs. Minha filha Giulia repete esse gesto quando tem beijos na TV.

Ah! E o Roberto Carlos! Esse era de verdade um rei para ela. Todo fim de ano ela não perdia um show do rei, sempre estava lá, na frente daquela televisão de olho arregalado assistindo o programa. Esse momento era sagrado.

Roberto Carlos - Decada de 60

Lembro do rádio em cima da cristaleira  onde todos os dias às 18 horas ela colocava um copo com água e ouvia a Ave Maria, ao final se benzia com o sinal da cruz e bebia sua água. Lembro também de um delicioso feijão que somente ela fazia em um fogão a lenha que tinha no quintal  e que só chamava de “oitão ”, rsrsrsrs.

Oitão – palavra que significa a parede lateral de uma construção ou o limite entre as paredes laterais de duas casas formando um corredor entre elas.

Meu avô, nós o chamávamos de “Pai véi”, engraçado, mas era uma forma carinhosa e de muito respeito.

Meu "Pai Véi"


 “Pai véi”  gostava de pitar o seu cachimbo e de enrolar um cigarro de papel e fumando permanecia por horas pensativo.  Mas aquele silêncio e solidão por alguns momentos deixavam de existir, era quando ele tinha a atenção de um dos filhos, muitas vezes  meu pai chegava do trabalho e passava um bom tempo conversando com ele.

Era quase um personagem sem ação, sempre apagado pela força e energia que a minha avó impunha na casa, e assim meu avô foi vivendo sua vida até finalmente subir para outra dimensão em idade bastante avançada. Aliás,  mesmo tendo sido ausente no seu papel de avô, ele foi muito importante em nossas vidas, pois aprendemos o que é respeito de verdade com a  convivência que tivemos com nossos avós. E quero dizer que o nosso avô foi uma relíquia que deixou lembranças  de uma figura genuinamente antiga, a  do nosso velho avô que chamávamos de  “Pai Véi”.

Já a minha avó Rita, era muito invocada mesmo. Nós meninas crescemos e passamos para a fase de “mocinhas” com a nossa avó  correndo  atrás de nós pela nas ruas. Ela vigiava muito mais as minhas primas que moravam com ela. Nos momentos de distração dela lá íamos nós para uma fugidinha, mas logo  minha avó aparecia  xingando e colocando a gente de volta para casa.

Recordo-me de uma  bela 4ª.feira, estação brilhante, verão, calor, pré carnaval. Tinha ensaio de um bloco de carnaval próximo a nossa casa chamado “Bloco do Cata”. Conseguimos dar uma fugidinha, mas não sei como minha avó descobriu e foi lá no bloco atrás das netas. Nossa sorte foi que a vimos de longe e com medo do vexame saímos correndo de volta para casa. Essa ficou na história.para casao e colocando a gente em casa de volta.is ainda.  velhos, vem de casa da conviv

Na verdade o que ela queria era cuidar para que seguíssemos os preceitos da época,  não era bom as meninas avançarem, tudo tinha seu tempo.

Minha avó Rita era assim,
Mulher brava, mas de alma boa,
Mulher de vida humilde, mas de atitudes assim,
Mulher com garra e trabalhadora, com sonhos de dias melhores,
Amando Roberto Carlos ela demonstrava ser uma mulher sensível,
Fazendo a oração da Ave-Maria ela era uma mulher temente a Deus,
Mulher  forte, mas frágil de sabedoria,
Mulher com defeitos, mas que o tempo mostrou a virtude do seu SER.

Minha avó Rita morreu em 2004 aos 98 anos, com a saúde fragilizada depois de muitos anos acamada e recebendo cuidados e carinho 24h por dia pela filha e netas.

Minha avó Rita era assim ...

....  de qualquer maneira não posso deixar de amá-la.


Minha avó era assim


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quarta-feira, 20 de junho de 2012

10 – Um telegrama abençoado



Uma história de sorte e da cor amarela me acompanhando na vida.

Foi uma era  marcada com Silvio Santos e o Baú da Felicidade. Minha mãe gostava de adquirir  os tais carnês do Baú da Felicidade. Sempre que quitava um carnê ela carregava um dos filhos para uma loja em Bonsucesso e trocava o valor pago por mercadorias.

A história começa assim. Ao fim de um desses carnês fui com a minha mãe até a loja do Baú, não ligava para esse tipo de coisa e nem sabia o que a sorte pode fazer com a nossa vida. Mas nesse dia o universo conspirava a meu favor. Quando minha mãe terminou a escolha das mercadorias o vendedor  do Baú da Felicidade empurrou mais um carnê para ela e foi nesse cupom que minha mãe preencheu  com o meu nome.

Tempo vai, tempo vem, a surpresa chegou em nossa casa com 2 ou 3 prestações pagas do carnê. Era 08 de  dezembro, inesquecível dia de Nossa Senhora da Conceição, que recebemos um telegrama. Lembro que eu não estava em casa, tinha ido com a minha avó Rita para o local onde ela trabalhava. Era uma grande casa que pertencia a duas irmãs, que optaram pela solidão da vida, se chamavam Dona Doninha e Dona Tolona, “patroas” da minha avó. Dona Tolona (rsrsrsrs, esse era o apelido) marcou épocas em minha vida e  me traz ótimas recordações. Depois quero dedicar um post falando somente  dela.

Gostava de ir para o trabalho da minha avó juntamente com as minhas primas. A casa era quase um sítio, muitas árvores frutíferas, um galinheiro sofisticado onde as galinhas tinham um quarto bem grande com vários poleiros  para elas dormirem além de um cisqueiro externo. Lembro que dava comida para as galinhas, subia nas árvores e deitava nas folhas secas embaixo dos pés de carambola e amora e comia as frutas assim olhando para o céu. Pois é, além da diversão também  ajudávamos nossa avó com o seu trabalho. Hoje essa casa está completamente diferente, o verde que me encantou não existe mais, o terreno foi dividido e outras casas foram construídas. Mas tenho a certeza que bem ali naquele espaço está para sempre marcado a alegria, a inocência e uma parte da vida de algumas crianças que docemente amavam brincar na natureza.  

Chegando em casa minha mãe me aguardava com o tal telegrama. Sem entender muito bem li o aviso de que o número do meu carnê tinha sido sorteado pela loteria federal e que receberia um carro zero kilometro.  Nossa! Ficamos meio incrédulos com o telegrama,  mas também ansiosos, felizes e com uma enorme expectativa em receber o grande prêmio, desde então passei a sonhar com a chegada desse carro.

Enfim chegou o grande dia! O Baú da Felicidade fez um folheto de divulgação com a minha foto e uma Kombi do Baú anunciava  em auto falante a minha sorte. Todo o meu bairro e outras vizinhanças ficaram sabendo que eu havia ganhado um carro do Silvio Santos.


Eu e minha irmã mais velha.

Ah, detalhe, o carro era um grande Opala amarelo gema!!!

Esse dia foi uma festa, a chave do carro foi entregue nas minhas mãos e  para comemorar meus pais fizeram um almoço para os funcionários do Baú. Como não tínhamos local para guardar com segurança  guardamos o carrordar com seguranças. za.ele espaço ainda tem a alegria, a inocrro seria meu at na garagem da casa de D.Tolona. Lembro que quase diariamente eu ia para lá e entrava no carro e sentia e mexia em tudo dizendo: é meu! Lindo ! É meu! Lindo! É meu! Lindo! Pura emoção!

Entre nós um vendedor do Baú da Felicidade


Mas os dias foram passando e gerava em mim uma expectativa por achar que o carro seria meu quando completasse 18 anos. Pura imaginação!

Meus pais não tinham o hábito de conversar conosco sobre os assuntos de adulto. Um certo dia meu pai levou o carro e não o trouxe de volta. Nesse dia vi minha mãe com muito dinheiro nas mãos e foi nesse momento que entendemos a venda do carro. Uma parte do dinheiro foi usada para saldar dívidas da família e outra parte foi para comprar roupas e sapatos para os filhos.  

Mistério e imaginações permanecem até hoje. Não sei  muito bem que benefício esse prêmio trouxe de verdade para minha família, pois a vida continuou a mesma com os meus  sonhos ficando para trás.  Mas o que importa de verdade é a gratidão pela benção alcançada  e pela capacidade que hoje tenho de sonhar e acreditar que na vida tudo vale a pena quando temos amor.

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena."      Fernando Pessoa


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segunda-feira, 18 de junho de 2012

09 - Vida na constelação de Deus


Esse texto foi escrito por mim em 11/12/2008, acho que em um de meus momentos de conexão com Deus.
 
Quem disse que estamos aqui somente de passagem?

Vivemos uma vida efêmera, mas indubitavelmente somos eternos como a lua.

Chegamos e voltamos em ritmos propulsados pelo nosso livre arbítrio assim como  por nossa vontade e desejos.

As vezes somos pequenos, as vezes somos grandes, somos seres evolutivos que  causam  impactos em nossos horizontes.

Uma vida  singela que se transforma quando encontramos os mananciais da vida espiritual.

Temos a luz radiante e o brilho cintilante dos astros. 


Podemos sentir  o pulsar vitalício dos corações abençoados pela mãe terra, nossa mãe natureza.




Eu sou uma vida na constelação de Deus que acredita no poder transformador da fé.

Com amor dedico aqui cada pedacinho da minha caminhada, pois é nela que encontro o portal para o jardim de Deus.

Luz !

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quinta-feira, 14 de junho de 2012

08 - A vida no caminhão amarelo


A minha história de vida parece fluir como num tilintar mágico.



Meu pai trabalhava incansavelmente dirigindo um caminhão amarelo e sempre antes de sair  orientava minha mãe para não deixar os filhos na rua. A obediência era um respeito, mas a vontade de brincar, rsrsrsrs, essa era maior.  Sabe como são as crianças, tem muita energia e elas querem mesmo é correr, pular e  brincar.  Meio que desatinados saíamos para a rua e ficávamos próximo ao nosso portão, ali permanecíamos por horas, quase o dia inteiro. As brincadeiras eram muitas, desde bola de gude, roda-pião, esconde-esconde, amarelinha até desenhos riscados no chão. Nós sabíamos a hora em que meu pai voltava do trabalho e ficávamos todos atentos. Eram dois sinais que alertavam a chegada dele do trabalho: o ronco do motor do caminhão e o cigarro que acendia logo que descia do caminhão. Imagina, um bando de crianças correndo e dizendo “chegou ele, vamos, corre!”. Todos corriam e quando ele chegava em casa fazíamos adoráveis caras de anjinhos obedientes, rsrsrsrsrs.

 

Logo depois meu pai deixou de fumar e aí a atenção passou a ser somente ao motor do caminhão. Era como se silenciasse a mente para ouvir o caminhão amarelo chegando.

Esse caminhão era o nosso meio de transporte para alguns lugares e passeios. Era com ele que meu pai nos levava ao médico, a praia, a feira e em viagens curtas. Era divertido até certa idade, aquela da inocência e do forte vínculo afetivo. Mas quando chegou a pré-adolescência confesso que eu ficava envergonhada com o caminhão, não queria que meus amiguinhos me vissem andando de caminhão. Sempre que meu pai me levava para algum lugar eu dava um jeito de disfarçar e me esconder abaixando na cabine do caminhão. Nunca contei isso para ninguém, na verdade eu entendia que era uma atitude errada e isso me dava um sentimento de culpa diante de tanto amor que recebia do meu pai. Fica aqui esse triste desabafo  e um pedido de perdão ao meu pai.





Foi de caminhão com a família que conhecemos Mangaratiba, litoral sul do Rio de Janeiro. As meninas acompanhavam a mãe na cabine e os moleques na carroceria. Dessa viagem me lembro de fatos inusitados segundo a mente de  uma criança. Achava estranho a linha do trem passar  bem junto a areia da praia, do sino que tocava na madrugada, e da cara de espanto da maioria na padaria  local quando escutavam nosso pedido  de pão bisnaga  para o café da manhã (rsrsrsrs, tinha alguns comilões na família). Muito mais alegres do que cansados retornamos dessa viagem com o coração preenchido pela beleza encantadora do lugar e com os muitos cocos dividindo espaço da carroceria com os meninos.

Igreja da Penha lá fomos nós! 

Era Outubro ,mês da festa em homenagem a padroeira de N.S. da Penha. O passeio conciliava a festa, mês de aniversário do meu pai e também uma promessa feita por minha mãe para curar a bronquite do meu irmão caçula. Tudo planejado pela minha mãe, desde a nossa roupa até a bolsa de comida para o piquenique.  E essa bolsa era vorazmente vigiada pelo meu irmão Zi, o comilão, que de maneira alguma nos deixava compartilhar aquele peso delicioso. Subimos os 382 degraus de escada, a Igreja lotada   e uma paradinha no meio da escadaria para uma foto histórica.





Depois da romaria da família na Igreja da Penha, uma bela surpresa:  entradas  para o Parque de Diversão  Shangai bem ali juntinho do Santuário da Igreja da Penha. Mais um momento de memória marcada e que será eternizado por nossas  muitas gerações.

Esse dia foi memorável e  hoje quando reunimos a família damos boas risadas lembrando os nossos passeios no caminhão amarelo.

E essa cor amarela, ah  essa me segue e me dá sorte .

Na paz!











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