segunda-feira, 11 de agosto de 2014

118 – Saudades do tempo





Tenho saudades da infância, do chão da minha casa, que era simples, mas era um chão seguro e cheio de amor.

Tenho saudades do meu pai, querido pai. Com ele aprendi a amar e a ser leal aos meus sentimentos. Com meu pai aprendi ser sutil e reservada na vida, a não falar o desnecessário. Saudades do meu pai quando nos ensinou que a vida pode se renovar com pequenas atitudes. Aprendi com ele mais a sentir e a observar a grandeza do mundo.

Tenho saudades da minha mãe, quando pela manhã perfumava a casa com o aroma de café e quando chamava os filhos para uma mesa já posta com o pão e o leite. Saudades da minha mãe quando fazia nossa comida, mandava tomar banho, brigava pelo falatório alto e nos ensinava o que é amar. Saudades da minha mãe quando a noite, mesmo cansada, nos mostrava seu olhar terno de uma mãe que protegia sua cria e com muita medida de coragem entrava em nossos pesadelos para abater os monstros imaginários. Saudades da minha mãe, quando lembrava cada data de aniversário e com um bolinho pequeno cantava parabéns para você. Saudades sempre terei da minha mãe, mesmo sabendo que hoje sua memória  lembra muito mais do passado longe do que do presente perto.

Saudades dos meus irmãos e irmãs quando juntos a noite ficávamos admirando o céu e procurando vagalumes na escuridão enquanto esperávamos nosso pai chegar do trabalho.  Saudades dos meus irmãos quando brigávamos por qualquer coisa, mas sempre vinha o mais engraçadinho que nos fazia rir e o clima de felicidade reinava outra vez. Saudades dos meus irmãos quando juntos sujávamos nossas mãos fazendo as máscaras de barro para brincar o carnaval.

Saudades da minha irmã mais velha quando nos mostrava sua vaidade de mulher e eu ficava curiosa para saber para onde ela ia tão bonita e o que fazia. Saudades da minha irmã mais nova quando ela se apertava no colo do meu pai, quando ela pequenina buscava entre nós a melhor brincadeira, quando ela queria ajudar a passar cera no chão, mas na verdade queria brincar de sentar no pano para que a puxássemos pelo chão da casa e com isso dar o toque final do brilho. 

Saudades tenho muito dos meus irmãos  quando todos nós juntos e de coração próximo um do outro, olhinhos brilhantes, cantávamos parabéns e comemorávamos o aniversário um do outro. 

Muitas saudades eu sinto da minha grande família...

Mas a saudade também larga minha mão e vai embora com o tempo, e aí... eu tenho saudades da saudade.









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