segunda-feira, 15 de outubro de 2012

34 – Santuário

Certa vez eu disse que faria um post exclusivo para uma pessoa que entrou na minha vida puxada pelo destino. E é verdade essa pessoa foi importante, pois me deu a oportunidade de conviver e de descobrir a minha essência e a minha grande alma verde. 

Quero relembrar os tempos de um pedaço da vida compartilhada com Dona Tolona, uma encantadora senhora, infelizmente já falecida. Um apelido diferente e engraçado, seu nome verdadeiro era Christolona Xavier. 


Como em um conto de fadas, “era uma vez há muito tempo atrás ...” existia um muro enorme de pedras onde ficava um terreno que se estendia de uma rua a outra, terra que alimentava diversas árvores frutíferas, galinhas, pássaros,flores de diversas cores, etc,  um grande santuário de energia viva, divina, natureza pulsante e vibrante e que abrigava o “castelo” da Dona Tolona.

Nesse “castelo” moravam duas irmãs, solteiras por opção, Dona Tolona e Dona Doninha, me pareciam felizes compartilhando a vida dentro desse grande castelo. 

Dona Tolona me deixou saudades de duas épocas, uma quando eu era criança e brincava no seu "castelo" e a outra uma fase mais adulta quando cheguei a morar com ela, nessa época eu já trabalhava e fazia faculdade.

Nesse tempo antigo minha avó trabalhava para essas duas irmãs e vez e outra me levava para ajudá-la juntamente com minhas primas. Éramos crianças e adorávamos essa aventura no “castelo”. Ajudávamos com a limpeza do enorme quintal e do galinheiro que  aliás era muito chique parecia mais um kitinet espaçoso, tinha uma área aberta e outra fechada com uma área exclusiva de poleiros para as aves dormirem tranquilas.


Mas eu curtia mesmo era subir na goiabeira, deitar nas folhas secas embaixo do pé de amora e de carambola para comer essas frutinhas.  Gostava de sentir o vento soprando, os raios de sol iluminando cada cantinho, os pássaros cantando... Era uma natureza tão intensa que me despertava o valor precioso do sol, da lua, da terra e das estrelas.

Esse tempo passou, a vida me levou para outros caminhos, Dona Doninha morreu e Dona Tolona ficou sozinha. Mas um dia a vida me encaminhou  novamente para o santuário da infância me fazendo morar com Dona Tolona e alí fiquei até o seu último dia de  vida. Muitas coisas mudaram com o tempo e não era mais o lindo castelo e sim a casa da Dona Tolona.

Uma madrugada triste, um infarto e um tempo de vida se esgotando. Praticamente Dona Tolona morreu nos meus braços dentro de uma ambulância indo para o hospital. Lembro-me do desespero dos paramédicos me pedindo para ajudá-los com a oxigenação enquanto faziam as massagens cardíacas, uma tentativa de ressuscitá-la.

Mas a vida se foi para Dona Tolona, era o dia da partida dela, ela me deixou lembranças e um perfume doce da natureza.

Vez ou outra eu penso nela com saudades do nosso convívio no santuário, da descoberta da vida com a natureza, do carinho que me dava quando eu chegava tarde da faculdade, penso na família que ela gostaria de ter tido, na filha que não teve, na ausência de um familiar que lhe dedicasse atenção e cuidado em sua fase tardia e solitária.


Dona Tolona foi para mim uma grande fonte de amor, de emoção e de afeto pelos idosos e pela natureza divina.

Onde quer que ela esteja que tenha sempre a paz, saudades,

Nazareth







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