Minha
vida não foi somente alegria, fases temáticas, festas, músicas e sonhos. Tive
também momentos de tristezas que muitas vezes me deixavam angustiada e com
medo do futuro.
Uma
situação que me deixou uma tristeza amarga no tempo foi uma fase de alcoolismo vivida pelo meu
pai. Na época não sabia porque ele entrou nesse vício, tínhamos uma vida
feliz, todos com saúde e crescidos. Minha mãe dizia que foram as más companhias
no trabalho que levaram meu pai a beber. Um caminho torto que foi difícil de consertar
e abandonar.
Eu
devia ter uns 15-16 anos quando diversas vezes presenciei meu pai, meu grande
ídolo, chegar do trabalho embriagado. Triste ...
Mas
sabe-se lá o que ele também sentia? A
sua marca era seu silêncio. Parecia angustiado, era um homem que nunca falou
de sua emoção, apenas solitariamente a sentia.
Ele
chegava do trabalho largava sua pasta, tirava a camisa e sentava no degrau da escada da varanda e ali
permanecia por horas, olhos vagos, rosto envelhecido e pensativo ele ficava até o
abraçar tarde da noite. Ficávamos todos quietos e temerosos em fazer qualquer
manifestação de barulho e despertar uma possível reação, sei lá... Mas graças a
Deus ele nunca demonstrou violência física para com a família, contudo com esse
vício conseguiu sequestrar as boas emoções de todos nós, filhos e esposa.
Foi
nessa época que comecei a escrever bilhetinhos para ele pedindo para largar o
vício. Deixava esses bilhetinhos na pasta de trabalho, nos documentos, no bolso
da calça e as vezes dentro do caminhão dele. O que eu falava nesses bilhetes? Da
minha tristeza de vê-lo chegar naquele estado, do sofrimento da minha mãe, do
meu amor por ele, enfim fazia um apelo para ele parar de beber.
Foram
muitos bilhetinhos escritos, mas para nada adiantaram, ele
não conseguiu mudar. O vício, o silêncio e a solidão venceram. Era uma rotina, ele chegava do
trabalho e direto ia apanhar sua garrafa de cachaça, tomava seus goles e ficava
quieto no seu canto até dormir no chão.
Essa
tristeza e frustração me fizeram decidir sair de casa para ir morar com a minha
irmã mais velha. Era uma fase em que eu questionava muito a vida, estava
sofrendo, percebi que meu amor não era suficiente para transformar e mudar
aquilo que nos fazia mal. Depois disso não voltei a morar com os meus pais. A
vida foi me direcionando cada vez mais para o trabalho consequentemente para
uma independência também maior. E assim aconteceu a superação e a compensação
de um passado triste. Sempre existe o lado bom de qualquer situação por mais ruim que ela seja basta
olhar ao redor e procurar o lado positivo das coisas.
Minha
família era católica de frequentar a Igreja indo a missa quase toda semana. Com
o alcoolismo do meu pai minha mãe ficou muito vulnerável e encontrou apoio na
Igreja Batista. Sei que ela orava muito e nunca perdeu a fé de que um dia a
família retomaria seu eixo principal.
Meu
pai somente deixou de beber quando meu irmão João sofreu um grave acidente no
quartel onde servia e teve que operar o cérebro permanecendo por mais de 4
meses no Hospital. Depois da cirurgia
ele perdeu seus sinais cognitivos (memória, percepção, atenção, pensamento,
aprendizagem e linguagem) e ficou sem movimentos físicos durante muito tempo. Por um
longo período, no horário de visitas, a família estava lá no Hospital
acompanhando meu irmão. Sofremos muito com o quadro dele e isso mexeu finalmente
com a cabeça do meu pai e a dor foi a motivação para ele largar o álcool.
Ao meu pai, o início , origem da minha vida e minha essência. Sei que certamente de onde está sente as boas vibrações que emano daqui.
“Pai
Apesar dessa tristeza marcada saiba que nunca deixei de amá-lo. Com os
meus bilhetes eu encontrei uma forma de me comunicar e tentar através da emoção
repassar uma mensagem que tocasse seu coração.
Queria
muito trazê-lo de volta para a convivência em família. Eu sei que sofria por não conseguir largar o vício, sentia-se preocupado
com os novos tempos e a subsistência da grande família. Já não era mais fácil
atender filhos crescidos, exigentes e desejosos de tantas coisas. Pai, bastava
continuar sendo o paizão da nossa infância feliz e que até hoje carregamos na
memória. Uma lembrança maravilhosa que hoje repassamos aos nossos filhos, a
história de mais risos que tristezas de uma grande família.
De Nazareth, sua filha que o ama muito.”
Que eu tenha sempre a vontade de escrever e reescrever minha caminhada pela vida.
Uma
filha amorosa
avidaemcaminhadas.blogspot.com.br